Santa Maria: Emocionado, major lembra que proibiu filhas de irem à festa em boate

Chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gérson Pereira, em Santa Maria (Foto: Roberta Lemes/G1) 
Emocionado, com olhos marejados, o chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gérson Pereira, contou que as duas filhas, de 18 e 20 anos, deveriam estar na boate Kiss na madrugada de domingo, na ocasião do incêndio que vitimou mais de 230 pessoas.  “Elas queriam ir, mas não permiti”, conta. “Dei limite, proibi de saírem naquela noite e agora vejo que fiz a coisa certa”, contou o oficial durante conversa com a imprensa na tarde desta terça-feira (29).

De acordo com o major, a boate Kiss era um dos pontos mais frequentados pelos jovens na cidade e foi impossível não pensar nas filhas durante a operação de resgate de corpos e feridos. “Nós salvamos vidas e ver uma situação como a que presenciamos na casa noturna é muito difícil”, disse ele. “Nós estamos cumprindo a nossa parte, fiscalizamos e determinamos a correção do que está errado. Eu vejo muita as coisas erradas e fico preocupado, mas infelizmente elas não estão na minha competência”.

Na mesma entrevista, o major falou sobre a responsabilidade dos bombeiros no episódio. Segundo ele, a casa noturna tinha todas as exigências estabelecidas pela lei vigente no Brasil. “Quem falhou, que assuma a sua responsabilidade. Nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e não vou entrar em jogo de empurra-empurra”, afirmou.

Telefonema interrompe a coletiva

No meio das explicações à imprensa, um telefonema interrompeu a entrevista coletiva. Do outro lado da linha, uma orientação do governo para que o major a não dar mais declarações à imprensa sobre o incêndio na boate Kiss, onde 234 pessoas morreram no domingo (27).

"Recebi uma ligação do governo do estado e fui orientado a não falar com a imprensa. As informações vão ser centralizadas. Esta será a última vez que conversamos", disse.

Incêndio e prisões

O incêndio começou por volta das 2h30 de domingo (27), durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que utilizou sinalizadores para uma espécie de show pirotécnico.

Segundo relatos de testemunhas, faíscas de um equipamento conhecido como "sputnik" atingiram a espuma do isolamento acústico, no teto da boate, dando início ao fogo, que se espalhou pelo estabelecimento em poucos minutos.

Quatro foram presos nesta segunda-feira após a tragédia: o dono da boate, Elissandro Calegaro Spohr, o sócio, Mauro Hofffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que fazia um show pirotécnico que teria dado início ao incêndio, segundo informações do delegado Sandro Meinerz, responsável pelo caso.

Em depoimento, Spohr afirmou à Polícia Civil que sabia que o alvará de funcionamento estava vencido, mas que já havia pedido a renovação.

O advogado Mario Cipriani, que representa Mauro Hoffmann, afirmou que o cliente "não participava da administração da Kiss".

Na manhã desta segunda, outros dois integrantes da banda falaram sobre a tragédia. "Da minha parte, eu parei de tocar", disse o guitarrista Rodrigo Lemos Martins, de 32 anos.

Por meio dos seus advogados, a boate Kiss se pronunciou sobre a tragédia, classificando como "uma "fatalidade".

A presidente Dilma Rousseff visitou Santa Maria no domingo e decretou luto oficial de três dias.

O comandante do Corpo de Bombeiros da região central do Rio Grande do Sul, tenente-coronel Moisés da Silva Fuch, disse que o alvará de funcionamento da boate estava vencido desde agosto do ano passado.

Do G1/Foto: Roberta Lemes

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