Motoristas do Recife estão reféns dos flanelinhas
Do PE360º
Quem circula de carro pelo Recife sabe o quanto é difícil estacionar. Além da pouca quantidade de vagas disponíveis, as ruas também parecem ter donos. São os flanelinhas que, além de cobrarem pelo espaço público, ainda reservam lugares para os “clientes”. E quem se recusar a pagar pelo estacionamento corre o risco de ter o veículo danificado.
Na Praça do Parnamirim, na Zona Norte, por exemplo, o trabalho dos flanelinhas é intenso durante todo o dia. Para fazer a lavagem dos carros, eles chegam até a retirar água da fonte da praça. “A gente sobrevive disso aqui, né. Assim a gente ganha o pão de cada dia, para não estar roubando, metendo a mão no que é dos outros. Aqui tem pai de família que paga aluguel, paga escolas dos filhos”, conta o flanelinha Isaac Silva.
Os clientes que trazem o carro para a lavagem também não respeitam a placa de proibido estacionar. O comerciante George Saad revela que deixa o veículo para lavar com os flanelinhas há 10 anos. “O pessoal aqui eu conheço. Aqui param delegado, juízes... Não estou dizendo que está certo, mas poderiam arrumar uma maneira de resolver esse problema para esse pessoal”, defende.
As ruas próximas ao Parque da Jaqueira também são muito disputadas por eles. Com tantas horas de trabalho, o flanelinha Paulo José da Silva, que estudou só até a quarta série, afirma que não encontra tempo para voltar à escola. “Eu já estou com 20 anos. Acho que vou fazer curso para arrumar um emprego melhor”, diz.
No entorno da Universidade Católica de Pernambuco, no bairro da Boa Vista, quem chega à noite para estudar encontra vários flanelinhas. Eles tomam conta das vagas e organizam o trânsito. O flanelinha Edgar Batista do Nascimento diz que o cliente é quem escolhe a quantia a pagar. “Vai a seu critério. Se o senhor puder dar R$ 2, pode dar. E se quiser dar R$ 50, eu agradeço do mesmo jeito”, conta.
Alguns estudantes não se incomodam com essa convivência diária e até acham o trabalho dos guardadores necessário. É o caso de Hilton Bulhões Neto: “Temos toda a dificuldade do mundo em conseguir estacionar. E ele toma conta do nosso carro e ajuda a encontrar vaga”.
Mas para outros motoristas, a camaradagem com os flanelinhas não passa de uma relação forçada. Eles afirmam que a simples presença dos guardadores em uma área pública já é, por si só, um constrangimento ao direito de estacionar de graça.
Esses condutores sentem-se forçados a pagar, não por um serviço prestado, mas para evitar prejuízos. “A rua é pública, mas a gente tem pagar por prevenção. Se a gente não paga, a gente está sujeito a isso, arranharem e fazerem alguma coisa com o carro”, conta a estudante Maria Luiza Carneiro Leão.
A estudante Karen Lucato diz que já foi vítima dos flanelinhas que reservam vagas para "clientes". “Semana passada mesmo, aconteceu com um cara que a gente sempre para. A gente chegou e ele disse que estava lotado. A gente já entendeu que tinha que pagar mais, porque a vaga já era de outra pessoa”, revela.
O engenheiro Alexandre César conta que já foi roubado por um flanelinha: "Foi mais de uma vez. Eles insistem em ter que dar a gorjeta, uma vez eu parei só cinco minutos. Aí eles arranharam o carro, roubaram minha tenda. Não são todos, mas uma parte sim".
Outra que se sente refém dos flanelinhas é a estudante Camila Macedo. Ela conta que eles cercaram o carro, pediram o dinheiro e, na hora em que ela foi tirar, eles a roubaram. "Ele pegou o dinheiro e saiu correndo. Foi no centro da cidade", diz.
A Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) informa que não é responsabilidade deles reprimir o trabalho dos flanelinhas. Eles orientam aos motoristas que, caso se sintam prejudicados ou ameaçados, prestem queixa à polícia.
“A solução seria nós, como usuários do sistema, tomarmos atitudes. Se ele cobrar por uma vaga que é gratuita, ele está extorquindo dinheiro e o condutor deveria fazer uma denúncia, para a polícia tomar as providências cabíveis contra o flanelinha”, afirma o gerente de operações de trânsito, Wagner Rodrigues (foto 4).
De acordo com Wagner Rodrigues, várias ações já foram realizadas para punir os motoristas que estacionam em locais proibidos. “No ano passado, tiveram mais de três mil notificações. Mas a questão dos flanelinhas, hoje, no Recife, é um câncer geral. Eles estão em todo lugar, você vai num show, num bar, sempre tem”, diz.
O gerente garante que, assim que houver a contratação de novos agentes de trânsito, a fiscalização será intensificada. “Nessa programação, vamos colocar, a partir de amanhã [sexta-feira, 1º de abril] uma fiscalização mais intensa, de manhã, à tarde e à noite”, afirma.
Quem é flagrado com o carro em local onde há placa de proibido estacionar tem que pagar R$ 85,13 e recebe quatro pontos na carteira. E quem deixa o veículo em cima da calçada e dos canteiros comete infração grave: a multa é de R$ 127,69 e o motorista recebe cinco pontos. Em todas essas situações, o veículo pode ser rebocado. Se isso acontecer, o dono do carro terá que pagar R$ 55 pelo guincho e R$ 10 reais pela diária, no depósito de veículos do Detran.
É importante lembrar, ainda, que não existem flanelinhas cadastrados no Recife. Então, se ele apresenta crachás da Prefeitura ou utiliza cones de trânsito para fechar a rua, deve ser denunciado.
SERVIÇO:
CTTU - 0800 081 1078
Disque-Denúncia - (81) 3421.9595
Quem circula de carro pelo Recife sabe o quanto é difícil estacionar. Além da pouca quantidade de vagas disponíveis, as ruas também parecem ter donos. São os flanelinhas que, além de cobrarem pelo espaço público, ainda reservam lugares para os “clientes”. E quem se recusar a pagar pelo estacionamento corre o risco de ter o veículo danificado.
Na Praça do Parnamirim, na Zona Norte, por exemplo, o trabalho dos flanelinhas é intenso durante todo o dia. Para fazer a lavagem dos carros, eles chegam até a retirar água da fonte da praça. “A gente sobrevive disso aqui, né. Assim a gente ganha o pão de cada dia, para não estar roubando, metendo a mão no que é dos outros. Aqui tem pai de família que paga aluguel, paga escolas dos filhos”, conta o flanelinha Isaac Silva.
Os clientes que trazem o carro para a lavagem também não respeitam a placa de proibido estacionar. O comerciante George Saad revela que deixa o veículo para lavar com os flanelinhas há 10 anos. “O pessoal aqui eu conheço. Aqui param delegado, juízes... Não estou dizendo que está certo, mas poderiam arrumar uma maneira de resolver esse problema para esse pessoal”, defende.
As ruas próximas ao Parque da Jaqueira também são muito disputadas por eles. Com tantas horas de trabalho, o flanelinha Paulo José da Silva, que estudou só até a quarta série, afirma que não encontra tempo para voltar à escola. “Eu já estou com 20 anos. Acho que vou fazer curso para arrumar um emprego melhor”, diz.
No entorno da Universidade Católica de Pernambuco, no bairro da Boa Vista, quem chega à noite para estudar encontra vários flanelinhas. Eles tomam conta das vagas e organizam o trânsito. O flanelinha Edgar Batista do Nascimento diz que o cliente é quem escolhe a quantia a pagar. “Vai a seu critério. Se o senhor puder dar R$ 2, pode dar. E se quiser dar R$ 50, eu agradeço do mesmo jeito”, conta.
Alguns estudantes não se incomodam com essa convivência diária e até acham o trabalho dos guardadores necessário. É o caso de Hilton Bulhões Neto: “Temos toda a dificuldade do mundo em conseguir estacionar. E ele toma conta do nosso carro e ajuda a encontrar vaga”.
Mas para outros motoristas, a camaradagem com os flanelinhas não passa de uma relação forçada. Eles afirmam que a simples presença dos guardadores em uma área pública já é, por si só, um constrangimento ao direito de estacionar de graça.
Esses condutores sentem-se forçados a pagar, não por um serviço prestado, mas para evitar prejuízos. “A rua é pública, mas a gente tem pagar por prevenção. Se a gente não paga, a gente está sujeito a isso, arranharem e fazerem alguma coisa com o carro”, conta a estudante Maria Luiza Carneiro Leão.
A estudante Karen Lucato diz que já foi vítima dos flanelinhas que reservam vagas para "clientes". “Semana passada mesmo, aconteceu com um cara que a gente sempre para. A gente chegou e ele disse que estava lotado. A gente já entendeu que tinha que pagar mais, porque a vaga já era de outra pessoa”, revela.
O engenheiro Alexandre César conta que já foi roubado por um flanelinha: "Foi mais de uma vez. Eles insistem em ter que dar a gorjeta, uma vez eu parei só cinco minutos. Aí eles arranharam o carro, roubaram minha tenda. Não são todos, mas uma parte sim".
Outra que se sente refém dos flanelinhas é a estudante Camila Macedo. Ela conta que eles cercaram o carro, pediram o dinheiro e, na hora em que ela foi tirar, eles a roubaram. "Ele pegou o dinheiro e saiu correndo. Foi no centro da cidade", diz.
A Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) informa que não é responsabilidade deles reprimir o trabalho dos flanelinhas. Eles orientam aos motoristas que, caso se sintam prejudicados ou ameaçados, prestem queixa à polícia.
“A solução seria nós, como usuários do sistema, tomarmos atitudes. Se ele cobrar por uma vaga que é gratuita, ele está extorquindo dinheiro e o condutor deveria fazer uma denúncia, para a polícia tomar as providências cabíveis contra o flanelinha”, afirma o gerente de operações de trânsito, Wagner Rodrigues (foto 4).
De acordo com Wagner Rodrigues, várias ações já foram realizadas para punir os motoristas que estacionam em locais proibidos. “No ano passado, tiveram mais de três mil notificações. Mas a questão dos flanelinhas, hoje, no Recife, é um câncer geral. Eles estão em todo lugar, você vai num show, num bar, sempre tem”, diz.
O gerente garante que, assim que houver a contratação de novos agentes de trânsito, a fiscalização será intensificada. “Nessa programação, vamos colocar, a partir de amanhã [sexta-feira, 1º de abril] uma fiscalização mais intensa, de manhã, à tarde e à noite”, afirma.
Quem é flagrado com o carro em local onde há placa de proibido estacionar tem que pagar R$ 85,13 e recebe quatro pontos na carteira. E quem deixa o veículo em cima da calçada e dos canteiros comete infração grave: a multa é de R$ 127,69 e o motorista recebe cinco pontos. Em todas essas situações, o veículo pode ser rebocado. Se isso acontecer, o dono do carro terá que pagar R$ 55 pelo guincho e R$ 10 reais pela diária, no depósito de veículos do Detran.
É importante lembrar, ainda, que não existem flanelinhas cadastrados no Recife. Então, se ele apresenta crachás da Prefeitura ou utiliza cones de trânsito para fechar a rua, deve ser denunciado.
SERVIÇO:
CTTU - 0800 081 1078
Disque-Denúncia - (81) 3421.9595
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