Alencar: Um vice nada figurativo
Por Sérgio Montenegro Filho, também no blog http://polislivre.blogspot.com
Diz a regra que, depois que um sujeito morre, só se deve falar bem dele. Pois então que se cumpra a regra.
Sobre o bem-sucedido empresário têxtil José Alencar - aquele proprietário da poderosa Coteminas - não me atrevo a comentar. Não é minha praia. Prefiro focar no José Alencar político, ex-senador, ex-vice-presidente da República e um impressionante conciliador, qualidade reconhecida em vida, mas que vale a pena relembrar após sua morte.
É inegável a importância de Alencar na construção da candidatura vitoriosa de Lula em 2002. Não fosse sua participação, é quase certo que não teria havido a aproximação necessária dos petistas com o empresariado brasileiro, elite mandatária que define, de fato, quem chega e quem sai do poder. Que o diga o ex-presidente Fernando Collor.
Também é fato que a mineirice de Alencar ajudou a construir o diálogo com esse setor. Corajoso, ele aceitou o convite dos artífices da candidatura Lula para assumir a vice absolutamente ciente de que ali estava não por uma questão de simpatia dos petistas. Longe disso.
O senador foi escolhido vice como parte de uma estratégia bem montada pelos caciques do PT nos quatro anos que sucederam a última derrota de Lula. Estratégia que incluiu uma guinada no discurso e a flexibilização de várias teses de origem marxista.
As mudanças ficaram bem claras na Carta ao Povo Brasileiro, divulgada pelo próprio Lula em junho de 2002, pouco antes de assumir a quarta candidatura. Após três quedas sucessivas nas urnas, mesmo contando com a simpatia das classes menos favorecidas, os petistas sabiam que caminhariam para um quarto fracasso, se não conseguissem o apoio de alguém com real penetração na poderosa casta que define os destinos da política nacional.
O mineiro de Curiaé sabia muito bem o papel que lhe caberia, e o cumpriu com afinco e competência. Ao ponto de, ao final de algumas palestras - como fopi possível testemunhar na Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) - despertar surpreendentes declarações de apoio a Lula por parte de empresários que antes demonizavam o ex-líder sindical, considerado um verdadeiro bicho-papão pela elite financeira.
Mas Alencar era tão envolvente que a aliança, em princípio meramente eleitoral, terminou descambando para o lado afetivo. Em 2006, pronto para disputar a reeleição, Lula foi instado por alguns auxiliares a substituir seu companheiro de chapa. Para esses petistas, pela boa aceitação que a gestão recebia, já era possível dispensar Alencar para buscar um nome que agregasse mais politicamente. Talvez no interesseiro PMDB.
Lula rejeitou a tese e bateu o pé. Ali, já admitia abertamente, sua relação com Alencar extrapolara o caráter político. Sem desmerecer a competência do vice-presidente, ele enxergava em Alencar uma espécie de figura paterna. Mais quatro anos e essa relação de confiança se consolidou de uma forma pouco provável para quem lembra das origens do PT.
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