O julgamento mais esperado dos últimos anos em Pernambuco será decidido nos detalhes. A partir desta segunda-feira, os irmãos kombeiros Marcelo José da Silva e Valfrido Lira da Silva, réus no processo de assassinato e tentativa de estupro das estudantes Tarsila Gusmão e Maria Eduarda Dourado, serão submetidos a júri popular, no Fórum de Ipojuca, no Grande Recife. Na audiência, prevista para durar três dias, defesa e acusação apresentarão um vasto material audiovisual para provar suas teses.
De um lado, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que vai pedir a pena máxima de 80 anos, exibe os depoimentos dados por testemunhas do caso, que foram gravados pela Polícia Civil, grampos telefônicos de ligações entre os acusados e o ex-promotor Miguel Sales, além de uma escuta na Kombi de Marcelo, que mostra o acusado e uma ex-namorada conversando sobre os óculos escuros de Tarsila.
Os promotores Ricardo Lapenda e Salomão Abdo Aziz também pretendem provar a culpa dos irmãos Lira demonstrando que, para chegar ao local onde os corpos das meninas foram encontrados, um canavial em Camela, distrito de Ipojuca, era preciso que o criminoso conhecesse bem a região. Com um mapa, a acusação vai mostrar que a estrada onde estavam os cadáveres leva à Camela, endereço de Valfrido.
Já a defesa, que afirma ter a opinião pública ao lado dos irmãos Lira, vai apostar na desqualificação das provas apresentadas pela acusação. Os advogados dos kombeiros também vão mostrar dois vídeos onde a mãe de Maria Eduarda, Regina Lacerda, diz não acreditar na culpa dos irmãos Lira. Convidado pela defesa, o ex-promotor do caso, Miguel Sales, que devolveu o inquérito quatro vezes alegando falta de provas, assistirá ao júri na cota de espaço reservado aos familiares dos réus.
Ao todo, 19 pessoas serão ouvidas, sendo dez testemunhas de defesa, duas de acusação, cinco peritos – que serão consultados –, além dos dois réus. O número reduzido de testemunhas arroladas pela acusação e a ausência de Regivânia Maria da Silva, que teria visto as garotas entrando na Kombi dos irmãos Lira, tem uma explicação. Além das ouvidas dos delegados Claudio Joventino e Paulo Jean, o MPPE irá utilizar os depoimentos que foram filmados por Jean.
Um dos vídeos mostra um familiar de um dos kombeiros revelando que Marcelo teria pedido ao filho para dizer a Edna Maria da Silva – conhecida como Pepê, uma ex-namorada de Valfrido – que se livrasse dos óculos escuros. Esses óculos, segundo a polícia, eram de Tarsila e teriam sido dados por Valfrido à ex-companheira.
Para o promotor Ricardo Lapenda, considerado um dos mais experientes do Estado, esse julgamento se diferencia dos outros pelo tamanho do processo, mais de 40 volumes. “A questão é que os boatos levaram a polícia a investigar fatos que não eram relevantes. Então, é um processo difícil de estudar para saber o que é necessário apresentar”, explicou Lapenda, que ficará responsável pela parte das perícias no julgamento. Já o colega dele, Salomão Abdo Aziz, apresentará os depoimentos. Cinco advogados das famílias das vítimas serão assistentes de acusação.
Todas as provas serão exibidas em um telão e a audiência será gravada em DVD. Essa é a primeira vez em Pernambuco que esse tipo de procedimento, que é permitido por lei para agilizar o julgamento, será adotado.
A investigação do duplo homicídio, crime que aconteceu em maio de 2003, tornou-se um dos casos policiais de maior repercussão dos últimos anos em Pernambuco. Marcado por uma onda de boatos, teve diversas reviravoltas, contradições e devoluções de inquérito por parte do promotor Miguel Sales. Quando ele foi afastado do caso, em 2008, os dois novos representantes do MPPE conseguiram a prisão dos acusados.
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