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GENTE DA GENTE: J. BORGES


José Francisco Borges nasceu a 20 de dezembro de 1935, no município de Bezerros, distante 95 km de Recife, capital pernambucana. Cidade de clima ameno, Bezerros naquela época era, segundo as palavras do próprio artista, um lugar onde "telefone era grito e remédios eram chás de folha de mato". Na família Borges, como tantas outras com mais de uma dezena de crianças, a meninada começava a trabalhar cedo. Com oito anos de idade, José Francisco já trabalhava na terra com o pai.

Um dia, as coisas começaram a mudar, como conta o próprio artista, no livro Memórias e contos de J. Borges, editado pela Gráfica Borges: "O que eu mais almejava na vida era aprender a ler e escrever, e um domingo eu estava numa venda que havia na região quando chegou um jovem que ensinava particular, num sítio vizinho. E o meu pai perguntou a ele assim: "David, na tua escola ainda cabe um burro?". Ele respondeu: "Cabe sim, seu Joaquim". Aí, meu pai me disse: "Olhe, seu pedaço de corno. Amanhã você vai para a escola, mas se fizer coisa errada eu mato você". O menino nem dormiu de tanta ansiedade. Os estudos, porém, só duraram 10 meses, tempo suficiente para J. Borges aprender a ler, escrever e fazer contas. Nunca mais voltou pra escola. "Daí em diante já fui explorar a pequena leitura que até hoje me serve, e procuro sempre cultivá-la ainda aprendendo", costuma dizer.

Na infância ainda, José Francisco trabalhava na lavoura e fazia cestos e balaios pra vender na feira. Na adolescência, atuou no jogo do bicho, fabricou lajes e tijolos e confeccionou brinquedos. Foi em 1956, que pegou o primeiro lote de folhetos para vender. "Sempre fazendo mais fé na poesia, abandonei todas as outras profissões para me dedicar à literatura de cordel", conta. Com 29 anos de idade, resolveu que iria escrever cordel. Nascia assim O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina, que tem na capa uma xilogravura do Mestre Dila. O primeiro cordel de J. Borges foi um tremendo sucesso: vendeu mais de cinco mil folhetos.

Foi preparando o original de O Verdadeiro Aviso de Frei Damião Sobre os Castigos que Vêm que o poeta se transformou em artista plástico. Sem dinheiro para pagar um ilustrador, J. Borges decidiu ele mesmo entalhar na madeira a fachada da igreja de Bezerros. Nunca mais parou. Começou a fazer matrizes por encomenda e também para ilustrar os mais de 200 cordéis que lançou ao longo de todos estes anos. Foi descoberto por colecionadores e marchands. Seu trabalho levado aos meios acadêmicos do País. Durante a década de 70, J. Borges começou a ampliar os horizontes de sua obra, gravando matrizes dissociadas dos cordéis, com grandes dimensões.

A partir daí, a obra de Borges passou a ser exposta também no exterior. Em 1992, pôde ser vista na Galeria Stähli em Zurique e no Museu de Arte Popular de Santa Fé, Novo México. Novas exposições foram organizadas na Europa e nos Estados Unidos. J. Borges tornou-se uma referência. Foi condecorado com Comenda da Ordem do Mérito, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, recebeu o prêmio UNESCO na categoria Ação Educativa/Cultural. Em 2002, foi um dos treze artistas escolhidos para ilustrar o calendário anual da ONU. Sua xilogravura A Vida na Floresta abre o ano no calendário.

Apesar de tanta visibilidade, J. Borges continua levando a vidinha que sempre quis levar, na pacata Bezerros, ao lado da família e dentro do ateliê. Segue escrevendo e entalhando a madeira. E confessa saber que o reconhecimento é fruto de um enorme esforço pessoal. Diz o artista, dando a receita: "Eles vêem o meu trabalho como peça de arte, mas para isso acontecer eu tive que enfrentar muitos anos de luta com otimismo e esperança de vencer as dificuldades que me apareciam ao longo dessa trajetória. Para isso eu tive que ter paciência, humildade, coragem, fé no ramo e cabeça fria".

Fonte: Revista Sim

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