PM alega que bala perdida atingiu cadela nos Torrões

Por Marília Neves

A Polícia Militar alegou, nesta quinta-feira (2), que o tiro que atingiu uma cadela na comunidade do Vietnã, no bairro dos Torrões, na Zona Oeste do Recife, foi fruto de uma bala perdida durante troca de tiros com um homem, na noite da última terça-feira (30). De acordo com a assessoria de imprensa da PM, o comandante do 22º Batalhão do Grupo de Ações Táticas Itinerante (Gati), coronel Arlino Gadelha, constatou o comparecimento dos policiais no local, mas os militares que participaram da operação afirmaram ter ocorrido um tiroteio e que, neste momento, a cadela teria sido atingida, apesar de eles não terem observado o ferimento no animal.

Com o intuito de tranquilizar a população, o comandante vai enviar um representante do Gati para entrar em contato com a comunidade. O intuito é mostrar à população que a PM encontra-se presente no cotidiano dos moradores para garantir paz e segurança e não para se indispor. Segundo a assessoria da PM, o caso será apurado para que futuras medidas administrativas sejam tomadas.

No entanto, de acordo com vizinhos e com o Movimento de Defesa Animal de Pernambuco (MDA-PE), o fato ocorreu de forma diferente da explicada pela polícia. Eles afirmam que a cadelinha Suzi teria sido vítima da intolerância de policiais militares, que teria atirado contra o animal sem nenhum motivo, apenas por estar latindo.

Como explicou a vizinha da casa onde mora a cadela Suzi, Girlene da Silva, que foi quem socorreu o animal, a tutora do bicho tinha acabado de soltá-lo quando três policiais abordaram três jovens que estavam parados em frete à casa da proprietária. Quando os policiais passaram por Suzi, a cadela latiu para eles, que teriam sacado a arma e dado um tiro na cadela, identificada pelas testemunhas como uma espingarda calibre 12.

Segundo Girlene, a polícia passa frequentemente pelo bairro fazendo abordagens. “Desta vez os policiais foram além dos limites. Dois dos meninos que foram abordados são filhos da tutora de Suzi, a dona Dalva, e falaram que ela não avançou, apenas latiu”, contou.

PETIÇÃO
Para protestar contra o suposto abuso, o MDA entregou uma petição à Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), na última quarta-feira (1º). Na ocasião, o manuscrito já contava com aproximadamente 1,3 mil assinaturas.

Segundo a vice-presidente do movimento, Goretti Queiroz, a mesma petição, que agora conta com mais de 1.500 apoiadores, será apresentada à Secretaria de Defesa Social ainda nesta quinta-feira.  “A petição pede que a OAB intervenha junto aos responsáveis para prestarem a assistência necessária à família que cuida de Suzi”, explica Goretti.

Segundo a presidente da Comissão de Defesa do Bem Estar dos Animais da OAB-PE, Cristiana Pragana Dantas, o crime em que os policiais seriam enquadrados é o de “maus tratos contra os animais”, que está tipificado na Lei de Crimes Ambientais. “Se condenados, os suspeitos podem pegar pena que varia de três meses a um ano de reclusão, além do pagamento de uma multa, já que o crime é considerado de menor potencial ofensivo”, comenta.

Segundo a advogada, o maior problema é comportamental. “Eu acredito que as pessoas deveriam se dirigir à PM e pedir a apuração do fato, efetuar a denúncia sobre a conduta dos policiais, informando a hora, o local, a placa da viatura, além de levar mais de uma pessoa para testemunhar”, orienta.

BOLETIM

Suzi foi levada aos cuidados do veterinário Rogério de Holanda, que, na manhã desta quinta-feira, informou que o quadro de saúde do animal é estável no momento, mas sequelas podem ser deixadas.

“Ela está com o quadro se estabilizando. Houve uma melhora, mas há risco de haver sequela neurológica, como desenvolver crises convulsivas e não reconhecer as pessoas”, declara. De acordo com o veterinário, a cadela teve um déficit ocular, mas ainda não se pode dizer que é irreversível.

“Ela havia perdido muito sangue. Foram observados danos estruturais no seio frontal devido à perfuração, o que acarretou em problemas respiratóriao. O ar fica saindo pela abertura da bala”, conta. “Ao longo deste dia, mais exames específicos serão realizados para dar um diagnóstico mais preciso”, falou o veterinário, que afirmou ser a primeira vez que cuida da cadela, mas disse que ela aparenta ser dócil e “ser muito bem cuidada”.

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