Recife: Mulheres gays ganham as ruas do Centro

Por Juliana Aretakis
 
O Recife ganhou um colorido especial na tarde de ontem para celebrar uma data nacional. O Dia da Visibilidade Lésbica foi festejado com uma caminhada que mobilizou cerca de duzentas pessoas e seguiu pelas principais ruas do Centro da Cidade. Ao som do maracatu e afoxé, os participantes foram em direção ao Palácio do Governo, chamando a atenção da sociedade para a 4ª edição do evento que teve como tema  “Visibilidade para além das Identidades”. Mas por trás de toda a festa que guiou o evento, a passeata buscou a reflexão sobre a atual situação das mulheres lésbicas e bissexuais. No Estado, a implementação de políticas públicas é foco do manifesto do Coletivo de Lésbicas e Mulheres Bissexuais de Pernambuco (Comlés), fundado no ano de 2009, e organizador do evento.

Após o percurso que saiu da Universidade Católica de Pernambuco, o grupo fez uma parada no Palácio, onde entregou um documento para representantes do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Entre as pautas reivindicadas estão a implementação do Plano de Feminização da Aids no Brasil, a Saúde Integral da Mulher Lésbica, a efetivação de uma equipe específica na Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres e a ampliação da assessoria especial para assuntos LGBT de Pernambuco.

“Nós queremos uma maior visibilidade das mulheres e queremos cobrar do governo algumas implementações de políticas públicas. Há dois anos foi criada a assessoria especial para assuntos LGBT, mas apenas uma pessoa trabalha nessa assessoria, queremos uma equipe. Vamos tentar também junto a SDS o levantamento de crimes motivados pela homofobia. Hoje nós não temos esses números, apenas ficamos sabendo de alguns casos por pessoas conhecidas”, ressaltou a representante do Comlés, Ana Carla Lemos. Outro déficit registrado pelo Comlés no Estado é uma casa de apoio LGBT. “Não existe uma casa para pessoas em situação de risco, especialmente para os travestis, que não são aceitos nem em casas de homem, nem de mulher”, disse Ana Carla. Apesar das deficiências, a representante reconhece avanços. “Muita coisa já foi feita, como a assessoria especial, mas ainda é preciso mais”, frisou.

Em meio a caminhada, que foi seguida por um trio elétrico, as participantes alcançavam o objetivo da mobilização. “O importante é a gente está nas ruas, mostrando que a gente existe, para que as pessoas nos respeitem quanto cidadãos, com direitos e deveres”, afirmou a pedagoga Bruna Melo, de 22 anos. Para a também pedagoga Ingláucia Almeida, de 27 anos, a sociedade ainda não reconhece as mulheres lésbicas. “A gente vem avançando, mas sabemos que ainda falta muita consciência, por isso esse dia da visibilidade,  já que ainda somos invisíveis. Temos que nos mostrar, garantir nossos direitos”, comentou. Segundo Ingláucia, a educação é o princípio para a maior conscientização da sociedade.

“Nós temos que trabalhar questões que não são trabalhadas, como a educação, em qualquer lugar. Na área da saúde, se chegamos a um hospital somos tratadas como heterossexuais, mas precisamos de cuidados voltados para a gente. Isso pode começar com a educação”, ressaltou. Para finalizar a Semana da Visibilidade Lésbica, o Comlés promove amanhã um Cine Debate no Museu de Artes Modernas, na rua da Aurora, Boa Vista, das 17h às 22h.

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