O adeus de Carlos Alberto Oliveira

Por Roberto Vieira
Do Blog do Roberto

Durante 16 anos, Carlos Alberto Oliveira comandou a Federação Pernambucana de Futebol (FPF). Para muitos, um ditador nos moldes de Rubem Moreira. Para outros, o homem certo no lugar certo, como era o caso de Rubem Moreira. Qualquer das duas hipóteses, decerto não desagradaria Carlos Alberto, pois tinha admiração confessa por Rubem Moreira, antigo vice rei do Nordeste, Rubem que comandou a FPF durante 27 anos.

Realmente, longos mandatos trazem consigo grandes oposições, opiniões divergentes, aplausos discretos, salamaleques de origem duvidosa, apertos de mão suspeitos. Porque todos falam mal do Poder longe de quem manda, mas muito poucos levam suas críticas aos ouvidos de quem de direito. Portanto, os sucessivos mandatos de Carlos Alberto, coroados com a eleição para um período posterior a Copa de 2014, não poderiam ser diferente.

Eu pessoalmente tenho outra visão. Tive a oportunidade de conviver com Carlos Alberto durante o lançamento do livro 'Clássico dos Clássicos – 100 anos de História', do qual fui autor ao lado de Carlos Celso Cordeiro e Lucídio José de Oliveira. O dirigente máximo do nosso futebol me surpreendeu; deu todo apoio ao evento, abriu as portas da FPF, discursou na oportunidade, confraternizou com os leitores, vibrou com o momento histórico do nosso futebol. Algo bem diferente da imagem que era transmitida na mídia e nas conversas dos torcedores.

Outro aspecto enriquecedor da experiência, foi testemunhar a amizade sincera entre Carlos Alberto e João Caixero, encontro de apaixonados por futebol, que muito me recordou a amizade entre Rubem Moreira e Osvaldo Salsa nos anos 60 e 70 em Pernambuco. Dirigentes que falavam a mesma língua, entendendo-se no olhar, interessados na bola na rede.

Dois anos depois tive uma grata surpresa; Carlos Alberto apareceu no lançamento do livro 'Pernambuco e a Copa do Mundo – 1930/1950' na Livraria Saraiva. O presidente novamente marcava presença no lançamento de um livro que buscava o resgate da memória do nosso futebol. Não pude deixar de lhe ser grato. Lançamentos de livro não ganham votos, não produzem manchetes, dificilmente são lembrados por dirigentes esportivos em geral, a não ser quando são homenageados.

Os dois episódios me fizeram enxergar o futebol pernambucano sob nova óptica. Será que os desmandos dos clubes, as mazelas diárias, os descaminhos na Série B e D dos grandes clubes, finalmente, será que a nossa crônica falta de melhor participação no cenário nacional eram culpas da FPF? Acho que não. Os grandes e pequenos do nosso futebol são eles próprios responsáveis pelo cabedal de derrotas que ocorrem com frequência. Carlos Alberto era apenas uma desculpa para quando não se tinha nenhuma outra desculpa – tanto que Carlos Alberto foi sempre eleito com folga em todas as eleições.

Mas pra quem ainda carrega a imagem do ditador, do homem de temperamento difícil, do presidente de voz rouca e interiorana, eis a grande chance de provar o contrário. Carlos Alberto parte na direção dos livros de história, a cadeira ficará vaga, aguardando o redentor do nosso desporto.

O que? Ninguém se habilita? Não era bem isso que diziam os críticos? O momento é de luto?

Era o que eu imaginava. Então vamos todos recordar o menino que corria na Princesa do Capibaribe, menino que batia bola na Rua da Matriz, que vestia o alvirrubro Centro Limoeirense, o menino que assistia os boleiros desfilando no Ponto Certo, os antigos contando histórias de Chico Heráclio, as lembranças do tempo de fartura e algodão, da rádio anunciando os resultados dos grandes jogos com o pensamento na distancia e no sonho. O menino que sonhava ser rei.

O menino que amava o futebol sobre todas as coisas...

Adeus, Carlos Alberto Oliveira!

Descanse em paz...

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