Era 15 de novembro de 1989. Uma euforia política tomava conta do País. Havia 22 candidatos disputando a Presidência da República de uma só vez. Na ampla concorrência, cabia de tudo. Desde 1964, quando fora instalada a ditadura militar no Brasil, o povo não ia às urnas para escolher um presidente. Aquele era o momento da primeira eleição direta após 29 anos de jejum. Foi preciso um segundo turno para decidir o vencedor. Em 17 de dezembro, saía vitorioso, com 35.089.998 votos, Fernando Collor de Mello, um governador do pequeno Estado de Alagoas, integrante do nanico PRN. Derrotara o então adversário, o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que obteve 31.076.364 votos.
Aos 40 anos - o mais novo presidente da história -, Fernando Collor subia a rampa do Palácio do Planalto representando o vigor da juventude e o idealismo vigente de que o País tinha jeito. Dois anos depois, consagrava-se como o mais breve inquilino do cargo, único, até hoje, no Brasil, penalizado por processo de impeachment. O fato arrematou o ciclo de vale-tudo, aberto nesse período de transição para a democracia.
Ainda no primeiro turno, o cenário era tão inédito quanto boa parte dos candidatos. Novatos na política como Marronzinho não hesitaram em entrar no páreo com tradicionais lideranças como o, então, presidente da Câmara Federal, Ulysses Guimarães (PMDB), e os ex-governadores Mário Covas (PSDB-São Paulo) e Leonel Brizola (PDT-Rio de Janeiro). Todo mundo queria tentar ser presidente. Até o apresentador Silvio Santos chegou a iniciar articulações, mas o seu partido, o PMB, foi barrado pela Justiça Eleitoral. Paulo Maluf (PDS), Guilherme Afif (PL), Ronaldo Caiado (PSD), Aureliano Chaves (PFL) e Fernando Gabeira (PV) também se candidataram.
“Acredito que aquela foi a eleição com maior nível de participação. Não teve universidade brasileira que não tivesse promovido debates, os sindicatos estavam engajados. Prévias entre candidatos eram realizadas em aviões durante os voos. Toda vez que tinha debate, você tinha prévias nas faculdades e a participação dos veículos de comunicação foi intensa”, lembra o presidente do PPS e um dos candidatos à época, Roberto Freire, pelo PCB.
Seguindo a tendência do inesperado, os teoricamente favoritos acabaram perdendo apoios, durante a campanha, e o recém-chegado Fernando Collor, ancorado numa boa estrutura de marketing, assumiu a dianteira. O seu discurso empolgou e ele ficou conhecido como o “Caçador de marajás”.
“Collor não participou de debate nenhum. Criou essa péssima e tradicional atitude de quem está na frente em pesquisa não querer participar. Embora muito ausente, foi até a eleição como primeiro colocado nas pesquisas”, relatou Freire.
DERROTADOS
Terceiro colocado no primeiro turno, Leonel Brizola encerrou sua corrida com mínima diferença de votos em relação ao praticamente desconhecido Lula. O pedetista, que chegou a chamar o petista de “sapo barbubo”, contabilizou 11.166.016 contra 11.619.816 do metalúrgico.
Vice-presidente do PMDB à época, o senador Jarbas Vasconcelos lembra que Ulysses Guimarães, pela trajetória que possuía, considerava-se praticamente dono de uma vaga no segundo turno. Levava em conta, para isso, a grande capilaridade da sua legenda, um partido estruturado com a maioria dos governadores, prefeitos, deputados e senadores. “Desaguaria, naturalmente, em voto”, pontua Jarbas, frisando que a engrenagem, no entanto, não funcionou e o peemedebista só terminou em sétimo lugar.
Por Renata Bezerra de mello